2010-02-07

A felicidade afinal, o que é ?


Qual a maior felicidade que você já viveu? O nascimento de um filho ou, quem sabe, a emoção de ver um filho entrar na faculdade? Especialmente se esse filho estudou a vida inteira em escolas públicas e foi sustentado por uma mãe que é vendedora ambulante. Isso sim é que é felicidade, vista com novos olhares!
Parece uma cena corriqueira: o filho levando a mãe para conhecer sua faculdade. Mas essa não é qualquer mãe, e esse não é qualquer filho.
“Cadê o menino de vovó, ninho?”. Essa é a mãe, Maria Luiza, chegando de mais um dia de trabalho. “Passei minha vida inteira mantendo meus filhos com esta carroça”, diz.
E esse é seu filho, no primeiro dia de aula no curso de biomedicina. “Você está dentro da elite da ciência em Pernambuco”, parabeniza o professor.
Alguma dúvida que o Alcides fez sua mãe muito feliz? “Mesmo que eu seja uma ambulante, mas consegui ver meu filho chegar a uma faculdade”, diz Maria Luiza.
“A felicidade se conquista aos poucos. Ela é adquirida por cada pedra tirada do caminho”, filosofa Alcides.
Para entender melhor o que é a felicidade, temos de experimentá-la com novos olhares.
Domingo de sol no parque, um dia glorioso, cheio de gente na rua, quer felicidade maior do que essa? Será que ela existe? Um professor de Nova York acha que sim. Ele olhou para a história da humanidade e descobriu que, através dos tempos, as pessoas pensaram de maneira diferente sobre esse assunto. Como será a felicidade hoje?
“Falei com várias pessoas para escrever o livro e não só filósofos e pensadores. Quando você pergunta o que é a felicidade, elas respondem que é algo que as faz sorrir, se sentirem bem. Mas, se você insistir nos detalhes vai ouvir que ela está relacionada com a família, com o fato de estar bem com o mundo, talvez até ter um propósito na vida”, explica Darrin McMahon, professor de História da NY University (EUA).
Parte do prazer em falar sobre felicidade é descobrir que cada pessoa tem a sua própria definição.
“Montar uma piscina na minha casa”, diz o pequeno Leonardo dos Santos, de nove anos. “Para eu ficar bem feliz, pessoas devem parar de caçoar de mim”, pede Vinícius Granozo, de 10 anos.
“Ficar um mês na praia com as meninas”, comenta Radassa Souto Pereira, de 10 anos. “Ficar brincando na piscina jogando bola”, diz Felipe dos Santos, de nove anos. “Um mês de férias no shopping”, completa Luana Gola Alves, de nove anos.
Algumas gerações para trás, as respostas também são diferentes. “Minha felicidade é saúde dos meus filhos, dos meus netos, são perfeitos”, diz Doracy dos Santos.
“No momento em que Luana fala ‘Te amo, vó’, naquele momento, a gente é feliz, porque a felicidade é feita de momentos”, diz Maria de Lourdes Gola.
Momentos como o nascimento dos próprios netos. “Foi muito emocionante ver aquela coisa fofinha, gordinha, minha neta”, completa Maria de Lourdes.
“Lindo demais. É o mais bonito do hospital”, lembra Maria René Granozo.
“É uma felicidade que não dá nem pra descrever como é, mas por dentro a gente se explode”, comenta Neide Duran.
“Coração pulando de alegria! Chegava aos pés, voltava o coração, não sabia o que fazer naquela hoje. Eu endoidei, eu endoidei naquela hora”, lembra Maria Luiza.
Maria Luiza ainda não é avó. Ela é a vendedora ambulante pernambucana, que você conheceu no início da nossa história. E a sensação que ela descreve tem a ver não com um neto, mas com um filho aprovado no vestibular.
“Eu tô feliz, porque meu filho passou e nunca estudou em colégio particular, nunca tive condições de pagar curso cara para ele. Graças a Deus, ele é de colégio público e passou! Eu tô muito feliz. Vai ser médico, ele quer ser cardiologista”.
“Minha mãe tinha certeza de que eu ia passar, ela sabia. Eu também tinha mas não tinha, que todo vestibulando tem aquela dúvida: ‘será que eu passei, não passei’”, diz Alcides.
Um filho que estudou a vida inteira em escola pública, numa das melhores faculdades de biomedicina? “Eu senti uma felicidade, porque eu fiz meu filho chegar onde ele queria, já que eu não tive essa oportunidade de chegar, mas eu botei meu filho ali”, afirma Maria Luiza.
“Você vai comprovar que eu disse a verdade, que coração de mãe não se engana”, comenta o filho de Maria Luiza.
“Nas línguas ocidentais, a palavra “felicidade” tem a ver com a palavra “sorte”. Na cultura antiga, a felicidade não era algo que você esperava da vida, porque o mundo era incerto. Então, se você estava feliz, tinha sorte. Mas isso mudou com Sócrates. Ele dizia: sabemos que todos querem a felicidade, então a questão é como consegui-la”, explica o professor Darrin McMahon.
“Eu sustentei meus filhos com a carroça, porque eu não queria que eles ficassem como hoje em dia eu vivo. Para eu vê-lo um dia ser o que ele é, eu tive essa força, essa coragem para trabalhar noite e dia”, afirma Maria Luiza.
“A felicidade é possível. Ela está ao nosso alcance, ela está dentro de casa, ou ela está em um programa de mestrado, ou ela está em ganhar dinheiro, ela está numa sexualidade que você busca”, observa o antropólogo Roberto da Matta, que entra na discussão.
“Para mim, no meu vocabulário individual, a felicidade são bênçãos, são várias: você encontrar as pessoas queridas, tomar uma cerveja, um amigo que você não vê há muito tempo”, acrescenta o antropólogo Roberto da Matta.
Mas como chegamos até aqui no nosso conceito de felicidade? Será que desde a Grécia Antiga já sabíamos que era só uma questão de se esforçar?
“Não foi bem assim. Durante séculos, o Cristianismo disse que, por causa do pecado original, havíamos deixado o estado de perfeição do paraíso e teríamos de sofrer aqui para ter uma recompensa no final. Os cristãos, então, passaram a acreditar que felicidade mesmo, só na próxima vida”, analisa Darrin McMahon.
“A felicidade também é um estado de equilíbrio. O paraíso, que também seria um lugar nosso, de felicidade plena, é um lugar de estabilidade. O paraíso não muda”, observa Roberto da Matta.
“No dia que eu fechar meus olhos, eles mesmo dizer: ‘Eu sei a vida que eu levei, eu sei a vida que minha mãe passou e eu estou aqui através da minha mãe”, comenta Maria Luiza.
Mas por que demorar tanto para recompensar uma mulher tão trabalhadora, que construiu sozinha uma casa para os seus filhos, será que ela só poderia buscar uma recompensa só depois da morte?
“Coisas interessantes começaram a acontecer no século XVII. As pessoas começaram a achar que o mundo não é mau. Filósofos como Locke começam a dizer que o ser humano agia pelas leis da natureza. Por exemplo: somos atraídos pelo prazer e repelidos pela dor. Com o Iluminismo, vem a idéia de que devemos criar uma vida com mais prazeres e tentar reduzir o sofrimento e a dor”, diz Darrin McMahon.
“A descoberta das leis da Química, da Física, da Anatomia, o funcionamento do corpo humano. Então, diz assim: se nós sabemos tudo isso e aplicarmos esse conhecimento à sociedade e à psicologia individual, nós vamos ter a fórmula da felicidade”, lembra Da Matta.
“E é isso que eu acho que é a felicidade: é o objetivo alcançado a serviço da humanidade, a serviço do bem”, defende Alcides.
Ah, se tudo fosse tão simples assim, Alcides. Entrar num curso disputado. “ Com relação à concorrência para o vestibular de biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco, nós temos aproximadamente 15 alunos escritos para uma vaga”, revela Paulo Miranda, coordenador do curso de biomedicina da UFPE.
Levar sua mãe para conhecer a faculdade, apresentá-la ao reitor. É meio como viver num sonho. “Bastante lisonjeado: receber o magnífico reitor em pessoa. Ele foi lá me receber na reitoria de braços abertos”, diz, orgulhoso, Alcides.
“O que está embutido no conceito anglo-saxão de felicidade, que é o conceito moderno, é que a felicidade, primeiro, passa pelo indivíduo. Como ela passa pelo indivíduo, o indivíduo pode obter a felicidade, desde que ele siga um programa, que é mais ou menos racional”, define Da Matta.
“Eu chego à conclusão, no final do livro, de que a procura é mais divertida do que o encontro com ela. Você persegue, persegue e aproveita a jornada, como vocês no Brasil. Talvez seja uma visão meio romântica que nós, americanos, temos dos brasileiros, mas parece que vocês são muito bons nisso, em aproveitar o momento”, diz Darrin McMahon.
Não sei se tem a ver com o carnaval ou não, mas por que a visão estrangeira do brasileiro é que nós somos felizes?
“Porque tem um modelo, você tem um momento coletivo nacional em que você tem um congraçamento nacional. Curiosamente isso está dito na minha obra, nos meus livros, em que o mundo é colocado de cabeça para baixo, em que você planeja um caos. Porque a felicidade é uma celebração, é uma celebração da vida, é uma celebração da virtude, é uma celebração do altruísmo, é uma celebração da minha personalidade, mas através das minhas relações”, acrescenta o antropólogo Roberto da Matta.
Algum conselho para essa garotada ser feliz quando crescer, Alcides? “Certamente que eles perseverem, que eles nunca desistam, que quando eles virem as dificuldades, não se abatam, vão em frente, se ocorrer algo que o façam cair, que eles se levantem, que eles sigam em frente”, recomenda.
E se alguém ensinou para o Alcides esse caminho para a felicidade, foi sua mãe, desde quando ele estudava na biblioteca.
“Comprava uma quentinha para ele, e ele ficava lá, ele se alimentava lá, ficava escoradinho na parede, para ninguém ver, com vergonha. Mas eu dizia para ele: ‘Não tenha vergonha, porque um dia essa vergonha que você está passando, um dia você vai ser um grande doutor, porque eu tenho esperança. A minha felicidade é ver os quatro formados. Se eu já consegui de um, vou conseguir dos quatro. Quem faz um faz dos quatro, quem faz cinco, faz dez, depende da força da mãe”, afirma dona Maria Luiza.
“Felicidade é a idéia de um momento, de um momento, em que as coisas, todas as circunstâncias se reuniram para produzir um efeito excepcionalmente, positivo”, finaliza Roberto da Matta.
“Eu costumo dizer que ‘tirei’ a felicidade do meu sistema, depois de escrever um livro sobre a sua história na humanidade. Ironicamente, talvez o melhor meio de encontrar a felicidade seja ir em busca de outras coisas: permitir que ela venha até você em vez de você ir até ela. Quem sabe assim você terá mais paz”, finaliza Darrin McMahon.

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Syllefaye

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A minha tarefa é animar o espírito e a imaginação, de modo que as pessoas aprendam a rir e gostar da vida, reconhecer seus próprios dons e potenciais. Vencendo seus conflitos e vivendo melhor e mais feliz!.